Por que tanta resistência para inovar em educação?

Autor: Prof. Gabriel Mario Rodrigues 
Presidente do Conselho de Administração da ABMES

Link para o texto original: https://blog.abmes.org.br/?p=12848

Leo Buscaglia, ítalo-americano nascido em 1924, foi professor e escritor famoso por seus livros de autoajuda nos anos setenta. Ele conta como inovou na escola fundamental quando começou a ensinar. Não era professor de ditar aulas. Instigava os alunos a terem ideias para resolver os desafios que criava, adotando o tema do “supermercado” e tudo que nele acontecia.

Aprendia-se matemática fazendo compras; idioma, criando anúncios para as bancas; química, conhecendo a maneira como eram produzidos os laticínios e as bebidas; física, mostrando como funcionavam os frigoríficos, e geografia aprendia-se pela procedência das mercadorias.

É lógico que, com a progressão do curso, as tarefas ficavam mais significativas, como pesquisar preços, entrevistar consumidores, conhecer de onde vinham as verduras e até saberem qual era o lucro do negócio. Mas também eram criativos: quando aparecia o “MEC americano” (são todos iguais) e na semana que antecedia a “visita in loco”, bastava datilografar relatórios e criar números.

Aqui no Brasil há teses e muitas palestras sobre inovação, mas poucas experiências sobre o que de fato está acontecendo a respeito na universidade. Sei que no ano passado houve até premiação para as escolas do fundamental que inovaram (Leia: MEC reconhece 178 organizações como inovadoras e criativas). No ensino superior, porém, conhecemos poucas iniciativas.

Sei que inovação é diferencial e há muita competitividade. “Para que dar conhecimento ao concorrente, se logo vão copiar?” Ou “se está dando tudo certo e ninguém reclama para que mexer?”

A realidade está no formato do ensino brasileiro, focado na universidade. O que interessa é entrar na faculdade e o resto o tempo resolverá.

Aliás, me questiono como tantas instituições conseguem ficar alheias a todas as inovações que fazem parte de nossa vida e não se inova na forma como o conhecimento é passado às novas gerações.

Agora, com os smartphones que nos permitem acessar qualquer conteúdo a qualquer momento e lugar, oferecemos currículo do século passado para estudantes que irão viver num mundo no qual é impossível prever o que ocorrerá nos próximos 10 anos.

Não critico a educação tradicional que nos trouxe até aqui, mas os espaços das instituições e o tempo que os alunos ali passam devem ser utilizados para desenvolvimento de competências e treinamento e não para reprodução de informação. Essa pode ser acessada pelos diversos meios disponíveis, que são de baixo custo e alta escalabilidade. O professor deve fazer como Buscaglia, desafiar os alunos a resolverem problemas, refletirem e compararem com a realidade em que vivem para encontrar soluções.

Por outro lado, gostaríamos de compartilhar da experiência de uma pequena faculdade, a Fappes – Faculdade Paulista de Pesquisa e Ensino Superior, que inovou na sua organização acadêmica criando um sistema flexível denominado Blox.

A premissa do modelo Blox é simples: diferente do currículo seriado, presente nas instituições, criou um sistema de créditos com uma nova visão. O aluno possui plena autonomia para escolher os temas que vai cursar na sua graduação. Desta forma, poderá naturalmente se aprofundar nos assuntos que mais gosta ou naqueles que acredita que trarão maior retorno para sua vida profissional.

O Blox reorganizou a lógica de criação das tradicionais disciplinas. O “Marketing” presente na Administração foi subdividido em dezenas de subtópicos específicos, atuais e contextualizados, como “Marketing Digital com o Google AdWords”, “Entendendo Marketing pelos Números”, “Estratégias Digitais para E-Commerce” e “Análise de Redes Sociais” entre outros. A proposta de cada uma dessas disciplinas é feita pelos próprios docentes, que podem explorar ao máximo seu conhecimento acadêmico e experiência de mercado e não serem meros reprodutores de informação. Tornam-se verdadeiros mentores enquanto os alunos resolvem os problemas e desafios propostos de conformidade com a demanda das empresas.

Outro visionário, o sul-africano Seymour Papert, um dos fundadores do MIT Media-lab, recentemente falecido, foi um dos maiores adeptos do uso da tecnologia na educação. Visitando o Brasil ao conhecer uma Escola de Samba declarou que se o sistema brasileiro de ensino fosse baseado na sua metodologia, os alunos iriam aprender, planejar, desenhar, executar e dançar e ainda seriam felizes (Vejam como ele pensava).

Para fechar, mais uma inciativa interessante: a criatividade da Rock and Rio Academy que, com a Curadoria da HSM do grupo Anima, mostrou todas as fases de produção deste espetacular evento. Fugindo da tradicional apresentação acadêmica, o pessoal da execução demonstrou como foi concebido e realizado o empreendimento. Além de marcante estratégia de Marketing, a criatividade de da HSM mostra que fugir ao tradicional é excelente estratégia competitiva.

Como lição de casa, fica a sugestão para que o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, em seus Congressos anuais (CBESP), criar uma seção para mostrar o que está sendo realizado como inovação nas nossas faculdades.

E quem não se dispuser a correr riscos para inovar, pode ficar para a história como grandes negócios que hoje não existem mais.

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